A Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC) publica artigo de autoria do Doutor em Direito e Desembargador Volnei Carlin. O artigo é intitulado “A despedida”.
A despedida
Volnei Carlin, Desembargador do TJ/SC, Professor da Academia Judicial
Comoveu o manto de tristeza e de sofrimento que se estendeu sobre a comunidade jurídica com a impactante e inesperada morte do magistrado Nicanor Calírio da Silveira.
O Tribunal de Justiça, seguramente, não é a sede da felicidade para todos os seus componentes. Para o juiz precocemente desaparecido, porém, era o local onde podia demonstrar seu espírito estudioso, dedicado, simples, ponderado, generoso e leal à causa da justiça. Tinha muitas outras virtudes. A mais visível era que, nas horas difíceis, portava a facilidade de aplainar dissensões. Para todos que o conheciam, por certo, era um extraordinário paradigma.
Seu perfil, una voce, carregava a marca do otimismo e respeito à lei, resumido num polimento psicológico enriquecido por princípios morais, numa percepção clara de que, sem observância a eles, a vida em sociedade se tornaria um pesadelo. Havia algo de familiar difundido em seu pensamento também.
“Se há algum poder que lhe dava esperança, chamava–se justiça” (Antônio Houaiss), parecia refletir seus atos. A existência de indicadores de excelência assegura as condições sintonizadoras com a realidade social, baseada no compromisso ético, vinculado aos novos tempos. A principal crítica que fazia era a da incapacidade do legislador de se ajustar aos problemas característicos da sociedade contemporânea. Era um prático da ciência do saber. Gostava de difundir idéias, abrindo discussões e mentes. Deixou grandes lições de verdade efetiva.
Não era, positivamente, daqueles que estão sempre atrás de alguma vantagem, escondendo–se em maquinações traiçoeiras. Nicanor valorizava seus amigos, sempre cultivando a lealdade. “Impossível não gostar dele”, “revelou–se um grande juiz ao ascender ao Tribunal”, “sua excelente atuação profissional é incontestável”, “sua conduta humana e noções claras sempre inspiraram credibilidade”, “só visava o bem dos outros”, foram alguns dos pensamentos expressados por colegas nos derradeiros momentos.
Nestes 30 anos de múltiplos e relevantes serviços dedicados à Justiça, é difícil falar da década de convivência profissional quase diária, sempre discreta e com gestos de amizade. Não falaremos desses dias, que foram muitos. Diremos apenas que deles ficaram a pungente lembrança. Sua falta será sempre sentida, nos diferentes momentos, como parte do processo de observação do dia em que Nicanor deixou a Terra e, tal Dom Quixote, de todo o ideário de sua vida: amizade e fidelidade, crença e fé, lealdade e gratidão, tolerância e trabalho, encantando os homens da vida real.
O desaparecido, de corpo e alma, sempre cumpriu missões. Sua memória deve ser, também por isso, guardada com muita reverência.
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da AMC