Projeto de juiz da comarca de Chapecó busca orientar pais, alunos e professores

 

Por Carolina Pompeo

A importância de uma boa educação na formação de crianças e adolescentes é unanimidade. Pelo menos deveria ser, é o que acredita o Juiz da Vara da Família da Comarca de Chapecó, Ermínio Darold. Para o magistrado, apenas a educação pode fornecer aos jovens o conhecimento e a orientação adequados para que tenham condições de decidir pelo melhor para si. Assim surgiu o projeto pessoal intitulado “O juiz vai à escola”, pelo qual Darold realiza palestras em escolas públicas para professores, pais e alunos. “A minha atuação como juiz na Vara da Infância e Juventude e depois na Vara da Família  permitiu-me testemunhar e compreender muitos aspectos das relações familiares e da realidade de uma parcela dos jovens. Realidade essa que muitas vezes não é a adequada. Então, senti que poderia realizar um trabalho de caráter preventivo, de orientação, e não apenas de restauração. O objetivo principal do projeto é reforçar a importância da escola e da educação nessa primeira fase da formação de crianças e adolescentes”, justifica Darold.

Em suas palestras, o magistrado propõe-se a abordar as relações entre pais e filhos, pais e professores, e professores e alunos. A dinâmica das palestras de Darold permite que ele se dirija aos três grupos distintamente, tratando de questões importantes para cada grupo, sem, no entanto, excluir os outros dois grupos que acompanham a palestra. Assim, professores, pais e alunos são levados a refletir sobre a realidade do outro através das palavras de Darold – ao expor perspectivas diferentes, o magistrado media uma interessante troca de experiências.

Darold tem o cuidado de selecionar os temas a serem trabalhados em suas palestras de acordo com a atualidade e a necessidade de que sejam abordados. Entre as temáticas mais frequentes estão aquelas comumente associadas ao universo do adolescente e do ambiente escolar, como o uso de drogas, a gravidez precoce, a violência, o bullying, formação profissional, internet e os perigos da utilização excessiva, indisciplina, desinteresse dos pais, dúvidas sobre o futuro etc. Percebe-se que a pauta é extensa e variada, o magistrado explica: “Existe uma grande diferença entre educação e instrução técnica. Os pais e os professores precisam saber disso. A escola não pode oferecer apenas instrução técnica e os pais não podem esperar que a escola assuma a educação de seus filhos. É um trabalho conjunto. Educação perpassa por uma série de valores, princípios e prioridades que devem ser trabalhados nas relações pais-filhos, pais-professores e professores-alunos, visando uma melhor orientação aos jovens em formação”.

Aborda os direitos das crianças e dos adolescentes, mas também – e com ênfase – as suas obrigações para com os pais, a escola e a sociedade, esclarecendo que “uma equivocada interpretação da teoria da proteção integral legou à propagação da idéia de que crianças e adolescentes têm apenas direitos. Mas o que tal teoria quer é assegurar condições suficientes para que crianças e adolescentes formem-se cidadãos, pessoas de bem,  solidárias, cientes dos seus direitos e cumpridoras das suas obrigações. E devem aprender isso desde cedo, tendo por ambientes a família e a escola.”

Além da orientação e esclarecimento sobre as temáticas acima, Darold pretende difundir uma mensagem de incentivo aos jovens que assistem a suas palestras com base no próprio exemplo: um homem que estudou a vida inteira em escolas públicas e alcançou a realização profissional e pessoal, a despeito do senso-comum de que o ensino público limita as possibilidades. É também uma mensagem de valorização e responsabilização: “Àqueles pertencentes a famílias de baixa renda, a escola pública é o único veículo capaz de conduzí-los a um mundo melhor. É preciso que  todos os envolvidos vejam na escola pública o sagrado espaço que conduzirá as crianças e adolescentes de hoje à condição de verdadeiros cidadãos do amanhã”, avalia Darold.

Já para os pais e professores o conselho do magistrado é: compreenda e respeite a individualidade de cada jovem. Darold considera que a massificação no ensino é um dos maiores motivos dos eventuais insucessos na educação, tanto pública quanto privada. É fundamental que educadores estejam preparados para lidar com alunos de personalidades e aptidões diversas; do mesmo modo os pais. O universo escolar é muito variado, então é essencial que se compreenda e respeite a diversidade e a individualidade de cada aluno. “É preciso evitar a massificação, como forma de conquistar a confiança e o respeito do aluno, trazendo-o para um estado de presença e um consequente resultado eficaz”, observa.

A dinâmica das palestras e a didática do palestrante parecem produzir resultados positivos. Atendendo duas escolas públicas por mês, ao longo de cinco anos de projeto, Darold calcula já ter palestrado para mais de dez mil pessoas e se mostra satisfeito ao contar que está com a agenda tomada até março de 2013, com disposição para mais. “Estudei a vida toda em escolas públicas e valorizo muito a educação pública. Com o projeto, vislumbrei não apenas uma forma de difundir essa mensagem, dizendo que o êxito é possível, mas também resgatar  uma dívida que eu acredito ter com o ensino público”, conclui Darold.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *