Mais de 200 pessoas assistiram, na noite desta segunda-feira, no auditório da Justiça Federal (antigo cine Cecontur), em Florianópolis, ao lançamento do documentário “O que o destino me mandar”, da jornalista Ângela Bastos. A produção mostrou como é a vida de meninos e meninas alojados em abrigos do Estado, desvendando os sentimentos e as angústias dos mesmos. A promoção do evento foi da Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC), através do Núcleo de Estudos Avançados da Infância e Juventude, com o apoio do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina (TJ/SC).
Ângela Bastos, presidente da AMC e juiz Marcelo Carlin conversam antes da exibição
O vídeo foi produzido com apoio cultural da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e faz parte de uma campanha que será lançada pela entidade em março de 2007 em favor da adoção de crianças que vivem nos abrigos de todo país. Além do presidente da AMC, Juiz José Agenor de Aragão, e outros magistrados que atuam na área da infância e juventude, prestigiaram o evento o Corregedor Geral de Justiça, Desembargador Newton Trisotto, que esteve no local acompanhado dos Juízes Corregedores Luiz Henrique Martins Portelinha e Samir Oséas Saad. Os Juízes Rodrigo Collaço (Presidente da AMB) e Francisco José Rodrigues de Oliveira Filho (membro da Diretoria da AMB) não puderam comparecer, devido a compromissos anteriormente agendados na Capital Federal.
O documentário, com 59 minutos de duração, é um pequeno retrato da situação de 80 mil crianças e adolescentes vivem em abrigos no Brasil. São meninos e meninas que, apesar da pouca idade, enfrentam problemas profundos – violências, negligência, abandono. Trancafiados pelos portões das instituições, eles convivem com uma realidade que nem sempre é percebida pela sociedade. “O que o destino me mandar” apresenta um cotidiano não sob a forma de números, de estatísticas ou de críticas ao sistema de caráter protetivo. O foco é a quebra do silêncio, dar voz a crianças como o garoto Pontaleão, oito anos, que vive abrigado numa cidade catarinense. Ao ser perguntado sobre sonhos para a vida adulta, ele responde: “quando eu crescer, quero ser o que o destino me mandar”.
Produção
As condicionantes que possibilitaram a concretização do documentário começaram a surgir em novembro do ano passado. Ângela Bastos – responsável pelo trabalho de pesquisa, roteiro e direção da obra – foi convidada pela Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC) a exibir o documentário “Flor de Pessegueiro” em um encontro estadual da magistratura na cidade de Concórdia. Os juízes se interessaram pela forma delicada e intensa como a questão da violência sexual, tema do vídeo, foi tratada pela jornalista.
Na ocasião, Ângela foi questionada pelos magistrados se a vida de crianças em abrigos poderia render um bom “argumento”. A resposta foi sim, e a jornalista partiu para o trabalho de pesquisa sobre o tema. Onde estavam, quantos eram, quem cuidava e como viviam as crianças abrigadas em Santa Catarina eram as perguntas chave do trabalho. A equipe de “Flor de Pessegueiro” foi mantida e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) assumiu o patrocínio cultural da obra.
A expectativa é de que “O que o destino me mandar” repita o sucesso alcançado por “Flor de Pessegueiro”, premiado como melhor vídeo do Festival Tudo Sobre Mulheres e agraciado com a Menção Honrosa da edição 2005 do prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. O documentário sobre a violência sexual fez Ângela Bastos receber o prêmio Cidadania Mundial 2005. “Flor de Pessegueiro” já foi apresentado em uma centena de eventos e transmitido em cinco emissoras de tv paga.
Santa Catarina
Em Santa Catarina há 1.078 jovens vivendo em abrigos. Os principais fatores que levam garotos e garotas a esta condição são a carência familiar, o abandono dos pais, o tráfico de drogas, a violência sexual e os maus tratos físicos, entre outros. A maioria das crianças são filhas de pais sem condições materiais e emocionais para cuidar de um filho.
Número de crianças abrigadas à 1.078
Meninos à 560
Meninas à 518
Idade
Até um ano: 5,29%
Um a dois anos: 5,66%
Dois a cinco anos: 16,6%
Cinco a 10 anos: 26,16%
Dez a 18 anos: 46,1%
Tempo de abrigamento
Até um ano: 600 55,66%
Um a dois anos: 220 20,41%
Dois a cinco anos: 188 17,44%
Cinco a dez anos: 220 20,41%
Dez a 20 anos: 21 1,95 %
Principais motivos de abrigamento
Maus-tratos: 23%
Abandono: 20%
Negligência familiar: 9%
Alcoolismo dos pais: 8%
Carência econômica: 5%
Separação dos pais: 2%
Pais presidiário: 2%
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da AMC