O dia-a-dia de crianças que vivem em abrigos, com as esperanças de retorno à família de origem ou da chegada da hora da adoção. Esta é a realidade revelada pelo documentário “O que o destino me mandar”, da jornalista Ângela Bastos. A produção mostra como é a vida de meninos e meninas alojados em abrigos do Estado, desvendando os sentimentos e as angústias dos mesmos. Com 59 minutos de duração, o vídeo será exibido às 19h30 da próxima segunda-feira, dia 11, no auditório da Justiça Federal em Florianópolis – local conhecido como Cecontur. A promoção do evento é da Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC).
A produção é um pequeno retrato da situação de 80 mil crianças e adolescentes vivem em abrigos no Brasil. São meninos e meninas que, apesar da pouca idade, enfrentam problemas profundos – violências, negligência, abandono. Trancafiados pelos portões das instituições, eles convivem com uma realidade que nem sempre é percebida pela sociedade. “O que o destino me mandar” apresenta um cotidiano não sob a forma de números, de estatísticas ou de críticas ao sistema de caráter protetivo. O foco é a quebra do silêncio, dar voz a crianças como o garoto Pontaleão, oito anos, que vive abrigado numa cidade catarinense. Ao ser perguntado sobre sonhos para a vida adulta, ele responde: “quando eu crescer, quero ser o que o destino me mandar”.
Produção
As condicionantes que possibilitaram a concretização do documentário começaram a surgir em novembro do ano passado. Ângela Bastos – responsável pelo trabalho de pesquisa, roteiro e direção da obra – foi convidada pela Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC) a exibir o documentário “Flor de Pessegueiro” em um encontro estadual da magistratura na cidade de Concórdia. Os juízes se interessaram pela forma delicada e intensa como a questão da violência sexual, tema do vídeo, foi tratada pela jornalista.
Na cidade do interior, Ângela foi questionada pelos magistrados se a vida de crianças em abrigos poderia render um bom “argumento”. A resposta foi sim, e a jornalista partiu para o trabalho de pesquisa sobre o tema. Onde estavam, quantos eram, quem cuidava e como viviam as crianças abrigadas em Santa Catarina eram as perguntas chave do trabalho. A equipe de “Flor de Pessegueiro” foi mantida e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) assumiu o patrocínio cultural da obra.
A expectativa é de que “O que o destino me mandar” repita o sucesso alcançado por “Flor de Pessegueiro”, premiado como melhor vídeo do Festival Tudo Sobre Mulheres e agraciado com a Menção Honrosa da edição 2005 do prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. O documentário sobre a violência sexual fez Ângela Bastos receber o prêmio Cidadania Mundial 2005. “Flor de Pessegueiro” já foi apresentado em uma centena de eventos e transmitido em cinco emissoras de tv paga.
Santa Catarina
Em Santa Catarina há 1.078 jovens vivendo em abrigos. Os principais fatores que levam garotos e garotas a esta condição são a carência familiar, o abandono dos pais, o tráfico de drogas, a violência sexual e os maus tratos físicos, entre outros. A maioria das crianças são filhas de pais sem condições materiais e emocionais para cuidar de um filho.
Número de crianças abrigadas: 1.078
Meninos: 560
Meninas: 518
Idade
Até um ano: 5,29%
Um a dois anos: 5,66%
Dois a cinco anos: 16,6%
Cinco a 10 anos: 26,16%
Dez a 18 anos: 46,1%
Tempo de abrigamento
Até um ano: 600 55,66%
Um a dois anos: 220 20,41%
Dois a cinco anos: 188 17,44%
Cinco a dez anos: 220 20,41%
Dez a 20 anos: 21 1,95 %
Principais motivos de abrigamento
Maus-tratos: 23%
Abandono: 20%
Negligência familiar: 9%
Alcoolismo dos pais: 8%
Carência econômica: 5%
Separação dos pais: 2%
Pais presidiário: 2%
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da AMC