O I Seminário sobre Saúde de Magistrados e Servidores do Poder Judiciário, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no final do mês de março, trouxe dados que merecem reflexão por parte do Poder Judiciário. Já na abertura do evento, a palestra Magna da psicanalista Mônica Véras sobre relações entre a Psicanálise e o Direito mostrou os impactos do trabalho na saúde mental de magistrados e servidores. Com dez anos de atuação nesta área, ela apontou dados de que a profissão de juiz é a segunda mais estressante no Brasil. Perde apenas para médicos da UTI e é seguida do magistério. Estas são as chamadas profissões estressogênicas e que repercutem na saúde.
Com atuação de 10 anos nos Ateliês Clínicos voltados a profissionais do Direito, Mônica apontou as audiências como o campo de batalha, além do ato de julgar ser solitário e estressante. Com abordagem do trabalho como polo saúde psíquica, a psicanalista falou da subjetividade do processo de construção mental e da importância da família, trabalho e amigos, como redes que ajudam num processo de depressão.
A diretora de Saúde da Associação dos Magistrados Catarinenses, juíza Cláudia Ribas Marinho, participou do evento e afirmou ser uma necessidade urgente que os nossos tribunais desenvolvam e apliquem ações efetivas para a saúde de magistrados e servidores. “Esse não é um problema que estar por vir, mas sim acontecendo”, enfatizou Cláudia Marinho, ao referir-se à manifestação do conselheiro e desembargador do TRT 5, Valtércio Ronaldo de Oliveira, que reconheceu o aumento no número de magistrados e servidores com depressão, chegando até mesmo ao suicídio.
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Sintomas
A psicanalista Mônica Véras defendeu que o trabalho pode ser espaço de saúde ou de sintomas ligados à saúde psíquica, três categorias: os corporais incluem psicodermatoses, alopécia, refluxo, gastrite nervosa, afonias, enxaquecas, cefaleias, asma, dispneia ansiosa, insônia, sonolência e tiques nervosos dentre outros. Os sintomas mentais estão relacionados a transtorno obsessivo-compulsivo, mania de limpeza e organização, pensamentos obsessivos de catástrofes, manias e rituais, compulsões, perfeccionismo exacerbado, controle exagerado das situações, necessidade de centralizar as ações obsessivamente, preocupações intensas e baixíssima tolerância à frustração. E, por fim, os sintomas ligados ao desamparo, como os medos, fobias, inseguranças e síndrome do pânico, perturbações psíquicas que podem ser geradas no ambiente de trabalho.
Os dados apresentados pela palestrante vêm ao encontro dos resultados da pesquisa que acaba de ser divulgada pelo CNJ sobre a situação de 16.998 magistrados e 242.805 servidores de todo o país. Os dados mostram que, em 2018, os afastamentos mais frequentes foram ligados à realização de consultas e exames (17,3%), doenças osteomusculares (8,5%), do aparelho respiratório (8,4%) e por transtornos mentais e comportamentais (7,2%).
Para saber mais: Pesquisa Saúde de Magistrados e Servidores do Poder Judiciário – 2019 – CNJ