“As instituições encontram-se cada vez mais preocupadas em criar mecanismos eficientes de transição desse estágio da vida”, afirma a Juíza de Direito de 2º Grau Cínthia Beatriz da Silva Bittencourt

 

A Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC) realizará, no dia 22 de março, a primeira etapa de um amplo programa de preparação para a aposentadoria, desenvolvido pela entidade. A organização do evento visa instigar os magistrados da importância de se preparar para o período de inatividade.

Dando seguimento a série de entrevistas com magistrados próximos da aposentadoria, a AMC entrevistou a Juíza de Direito de 2º Grau Cínthia Beatriz da Silva Bittencourt. Ela ressaltou a importância da implantação de um programa para debater as consequentes mudanças com a chegada da aposentadoria e das dificuldades de aceitá-las. Confira:

 

AMC – Qual a sua opinião sobre a implementação de um programa de preparação para a aposentadoria?

Juíza de Direito de 2º Grau Cínthia Beatriz da Silva Bittencourt – Acredito ser de extrema importância e irá nos ajudar a enfrentar as mudanças decorrentes (da aposentadoria) em nossas vidas. Vai ainda propiciar discussões sobre essa transição e as dificuldades que acarretam, além de apresentar rumos alternativos para uma vida melhor e plenamente produtiva.

 

AMC – Quais os seus anseios, dúvidas e expectativas ao ingressar nesta fase final da carreira?

Juíza de Direito de 2º Grau Cínthia Beatriz da Silva Bittencourt – Bem, acredito que seja idêntico aos dos demais colegas e pessoas que se aproximam desse estágio da vida. Naturalmente, como já dito, sinto dificuldades em aceitar uma mudança de rotina na minha vida produtiva, pois desde muito cedo venho me dedicando ao Judiciário na condição de Juíza de Direito e pertenço a esse grupo ativamente. Entretanto, se faz necessário evoluir e aceitar as mudanças no ciclo de vida. Anseio encontrar pessoas nas mesmas condições que também estejam dispostas a discutir e fazer questionamentos sobre o futuro e alternativas para uma mudança de rotina e uma consequente e prazerosa vida fora do trabalho.

 

AMC – De que forma está se preparando para a aposentadoria? O que pretende fazer depois de deixar a magistratura?

Juíza de Direito de 2º Grau Cínthia Beatriz da Silva Bittencourt – Confesso que ainda não estou me preparando, pois faltam alguns anos para alcançá-la, mas reforço a importância dessa preparação para uma transição mais confortável e tranquila. Pretendo, após a aposentadoria do Judiciário, dedicar-me ao magistério, função que há muitos anos desempenho conjuntamente, e reforçar os estudos da psicologia para, quem sabe, atuar na área da saúde mental, ajudando aqueles que não dispõem de recursos para arcar com profissionais desta área.

 

AMC – O que achou desta iniciativa da AMC, de promover um evento para discutir questões ligadas à aposentadoria? Qual a importância deste encontro?

Juíza de Direito de 2º Grau Cínthia Beatriz da Silva Bittencourt – A aposentadoria é uma fase da vida que, a princípio achamos difícil que nos alcance, pois pensamos nela como uma coisa distante, fora de nossas preocupações diárias, a não ser quando chegamos a um estágio avançado da vida. Nesse momento, vários fantasmas rondam e dentre eles se encontra a temível jubilação e a consequente mudança de rotina. É um momento difícil, pois vivemos em uma sociedade globalizada, onde se valoriza a figura do ser produtivo, ou seja, aquele que se encontra trabalhando, visualizando de uma forma negativa as pessoas que já ultrapassaram essa fase. Nesse espectro encontramos um ser fragilizado pela idade, com várias cicatrizes que a vida lhe deixou, mas que se sente capacitado para continuar com suas atividades e precisa delas como forma de se ver pertencendo a um determinado grupo, que reconheceu durante toda a sua vida. Nessa etapa, depara-se com a terrível decisão de desapegar-se daquela figura conhecida e penetrar em outro grupo, o qual naquele momento é desconhecido e temido. Diante dessas premissas, vejo que as instituições encontram-se cada vez mais preocupadas em criar mecanismos eficientes de transição desse estágio da vida para outro e, assim, eventos dessa natureza se tornam importantíssimos para discutir a questão e apresentar soluções menos traumatizantes para que se faça a ligação entre os estágios da vida. Além disso, proporciona discutir a “envelhescência”, tema que precisa ser tratada diante do aumento da expectativa de vida do ser humano.

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