Por Carolina Pompeo
O Desembargador Lédio Rosa de Andrade sempre teve um posicionamento ideológico contrário à ditadura e ao autoritarismo. Quando jovem, no período da Ditadura Militar brasileira, atuou ativamente como líder estudantil e pelo movimento do Direito Alternativo. Interessado em resgatar uma parte de sua história até então desconhecida, Andrade baseou-se na Lei de Acesso à Informação para solicitar junto aos órgãos de segurança do país os relatos produzidos contra ele nos tempos da ditadura.
Nos documentos recebidos, descobriu que foi investigado não apenas nos tempos de militância estudantil, mas também quando já era juiz. Considerado um “agente infiltrado no sistema judiciário”, o desembargador teve muitas de suas decisões analisadas em detalhes pelos militares, que buscavam qualquer aspecto que pudesse indicar uma conduta imprópria por parte de Andrade, o que jamais aconteceu.
AMC: Por que o senhor decidiu investigar o que havia sido produzido contra o senhor durante a ditadura militar?
Desembargador Lédio Rosa de Andrade: É uma questão de história pessoal e resgate de dignidade. Quando escrevi um livro sobre a história do movimento estudantil catarinense já havia mencionado a possível existência de fichas secretas sobre minha pessoa. Agora comprovei que sim e, ainda, que era espionado de forma ilegal pelos agentes policiais.
AMC: O que o senhor descobriu?
Desembargador Lédio Rosa de Andrade: Descobri que a polícia monitorava minha vida, não só quando era estudante, mas também como advogado e até mesmo quando já era juiz de Direito. Estão relatadas todas as minhas participações em congressos da UNE e outros encontros. Também artigos que escrevi como magistrado. Sou qualificado de “esquerdista infiltrado no Poder Judiciário” e outras coisas. E isso até início da década de 1990, ou seja, mesmo após o fim da ditadura continuaram me espionando. Mas até agora só recebi o resumo dos dados. Já pedi a integralidade. Quando chegarem esses documentos, poderei dar mais informações.
AMC: Durante a juventude, o senhor foi militante estudantil. Como avalia, hoje, as experiências, opiniões e posturas daquela época?
Desembargador Lédio Rosa de Andrade: Avalio como muito positiva. A luta de toda a sociedade democrática foi responsável pelo fim da ditadura. Nós ganhamos essa luta e livramos o Brasil de um regime espúrio, ditatorial, ilegítimo e criminoso.